sábado, 3 de outubro de 2009

Helena Matos e o Vale do Côa

"Recordo que em 1994 se anunciava que 300 mil turistas iriam anualmente rumar a Foz Côa para conhecerem as ditas gravuras. O país então achava-se tão rico que deitou alegremente fora o dinheiro já investido na barragem. Alguém que questionasse a desmesura deste êxtase místico com as inscrições do Côa e o desprezo por aquelas outras que simultaneamente eram submersas em Alqueva era tratado no mínimo como troglodita. No Côa apareceram poucos turistas e não consta que algum deles tenha aconselhado a experiência a quem quer que fosse. Na míngua de turistas encomendaram-se filmes que foram justificados como a derradeira tentativa de chamar a atenção internacional para o Parque Arqueológico de Foz Côa e construiu-se o museu..."
Helena Matos, Público, 1 de Out.'09, p. 37

A citação é longa mas justifica-se, pois esta opinativa inimiga de estimação do Vale do Côa não perde uma oportunidade. Os considerandos são sempre os mesmos e de nada serve desmenti-los. Da mesma maneira que Miguel Sousa Tavares episodicamente traz à liça os disparates de Bednarik dos idos de 95, sempre apresentados como verdades absolutas da "modernidade" do Côa, também Helena Matos regurgita ontem, hoje e amanhã, as suas verdades feitas sobre o deslavado turistame em Foz Côa e de como tratámos mal (!!??) as gravuras afogadas de Alqueva.

Sendo uma colunista tão ciosa das suas verdades (porque tão repetidas) apenas testadas em prosa de imprensa (a "ciência" do diz que disse), e como não acredito que alguma vez tenha visitado o Vale do Côa, pois daqui lhe deixo o convite para que o visite com olhos de ver e ouvidos disso mesmo. Com ou sem museu e com ou sem arte contemporânea (isso é toda uma outra história). Mas não se esqueça que o Parque Arqueológico não tem capacidade para receber todos os turistas que o visitam sem marcação. Convém por isso inscrever-se previamente, já que deverá querer fazer uma visita anónima. E se quiser perder uma tarde a ler as opiniões de alguns dos muitos turistas que por aqui foram passando, seguramente que levará muito que (re)pensar. A propósito, já viu (leu) o Fugas de hoje? Por acaso um suplemento do mesmo jornal em que escreve e que dois dias depois acaba por desmentir a sua prosa envenenada através da "fascinante experiência" da visita nocturna à Penascosa. E ainda por cima recomenda e aconselha...

Só lamento que, conhecendo muito bem o processo Côa e não tendo já muita paciência para este tipo de opinião não fundamentada (ela sim troglodita), e lendo estas mentirolas apresentadas sempre de uma forma tão escorreita e empinada, terei de dar um grande, muito grande, desconto às suas opiniões sobre a outra matéria de facto sobre que por'í vai perorando. É que o politicamente incorrecto quando não devidamente fundamentado é tão inócuo como o outro, o correcto. E acaba por ter o mesmo efeito. Ou seja, nenhum!

4 comentários:

Anónimo disse...

O que é um «pré-historiador»? Etimologicamente é uma atoarda. Ou será uma coisa que já o era antes de o ser? Vamos a factos: no passado fim de semana passei no Museu do Côa, a uns meros quase 1000 km de viagem desde a minha casa. Andavam por lá muitas pessoas, sem rei nem roque, a olhar pª o «auroque» (acho a caracterização da Helena Matos uma delícia!) e nem uma alminha pª as esclarecer que aquilo simplesmente «inexiste». Claro que vi lá o mobilário, luxuoso, embalado e possivelmente jamais utilizável naquele contexto (estivessem mais perto do 6 de Maio e haveria de ter uso, ai isso é segurinho...). Pior foi descobrir que um enorme grupo de pessoas, vindas expressamente de Paris, nem sequer às gravuras conseguiram ir porque... ora pasme-se, como se não bastasse a mais do que deficiente sinalização ainda havia a cereja no topo do bolo: os «mocinhos» do «parque» fizeram feriado! Meus queridos, viver pendurado na gamela do Côa vai dando... até ver. Já agora, tenho gravuras espalhadas pelos olivais, a alguns metros das do Parque e bem melhores: alguém as quer pª o museu? Vendo à melhor oferta.

Gigi

Anónimo disse...

A democracia permite a livre expressão que pode ir até à roda- livre, e a Srª. que assina Helena Matos permite-se ter até um púlpito privilegiado para as suas excursões. O diabo é quando a gente não se livra de algumas livres expressões tal como o pobre capitão Haddock, no Voo 714 para Sydney, se via e desejava com o irritante adesivo!
Mas, democracia não é paciência?
António Alves

Antonio Martinho Baptista disse...

É uma perdição esta mania bem portuguesa de apoucar o que ainda se vai tentando fazer na ilustração da piolheira, como diria o D. Carlos.
Pois cá fico à espera, cara Gigi dos olivais, que nos revele as "melhores" gravuras que por aí tem escondidas. Ou também serão uma atoarda? E para quê enfiá-las no auroque branco? Então isto não é tudo para deitar abaixo, mais tarde ou mais cedo?

Também conheço gente que fez quase 2.000 quilómetros e não conseguiu entrar na Lascaux da tal França desses visitantes expressos, que de tão apressados nem se dignaram marcar visita.

Mas quem é que vai visitar um museu que ainda não abriu e nem sequer está terminado? E que depois se queixa de não ter ninguém à porta (cerrada) a explicar-lhe isso mesmo: que ainda não há museu!

Façam lá a treta da barragem para acabarmos com todas estas historietas de maledicência e entrarmos noutras, como as da desertificação do interior e outras que tais. E quanto a gamelas ofereço-lhe de boa vontade todas as supostas do Parque. Vai ver que não enchem qualquer barriguinha que se preze.

Antonio Martinho Baptista disse...

Tem razão meu caro poeta. A democracia é bem um exercício de paciência.