sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Centro Nacional de Arte Rupestre (CNART). Dafinitudedotempo


O homem e a espiral. Extracto de um belo painel da rocha 72 do Cachão do Algarve, no Vale do Tejo (Vila Velha de Ródão). Na altura (1997), optámos por este símbolo e não por uma inevitável gravura do Côa, como a que evidentemente fora escolhida para símbolo do Parque Arqueológico do Vale do Côa. Até para conceder ao CNART, estanciado em Foz Côa, a dimensão nacional que todos desejávamos tivesse. E que só episodicamente aflorou.
Na aliança entre o homem e a espiral se conjugavam as origens e a temporalidade da vida. A espiral é, mais do que o círculo, um símbolo do absoluto e do eterno retorno, onde tudo se contém e nada se conserva, onde tudo se transporta e transforma em perpétua reorganização. Chegámos na altura a pensar na aliança simbólica entre o homem e o sol, de que há também pelo menos três imaginativos exemplares no Vale do Tejo, os únicos evidentes em território português. Mas era mais redutor...

E na espiral nos remirámos em perpétuo movimento por 10 curtos, curtos anos! Consequência evidente da batalha do Côa, Portugal era um dos únicos estados europeus que criara um serviço unicamente devotado ao estudo, salvaguarda e divulgação da sua arte rupestre. Pousadas as armas pelo Côa e embora a arte rupestre tenha em Portugal ganho foros de extrema honorabilidade arqueológica, ao primeiro sinal de crise o CNART é desclassificado e eufemisticamente (re)integrado na modorra administrativa, centralista e tentacular tão típica da maneira de ser português. Os tempos estão difíceis, tudo é posto em causa, o tempo é dos contabilistas... 

O Estado Português trata mal dos seus funcionários! Sem uma justificação, sem um resmungo, um lamento ou um agradecimento pelos serviços prestados, ou até um raspanete pelos não prestados, o Estado Português, pela mão do governo em exercício, extinguiu o CNART em 30 de Abril de 2007. Porquê? perguntar-se-á... Bom, de acordo com o não dito, parece que a coisa passa pela racionalização de serviços (mas não... irá talvez para além disso!), extinguindo-se aqui, parece, o mais pobre dos serviços públicos do Estado Português, que tinha na altura um orçamento (aliás, já nem isso tinha, como o próprio PAVC!) quase ao nível de algumas das reformas mensais que o mesmo EP paga a serventuários com uma dúzia de anos de bons e leais serviços (presume-se)! Passado o período de nojo, é chegado o tempo de balanço...

Antes até de inaugurado, o CNART diluiu-se nas brumas da memória. 9 anos de luta por uma sede e no momento em que tal se consegue (obrigado, administração local), morre o serviço, mas não a motivação pela defesa da nossa arte rupestre!

A memória do CNART está por ora no Vale do Côa, no seu Parque Arqueológico de futuro tão incerto como a crise dos especuladores financeiros que hoje assola o tempo das globalizações. 





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