segunda-feira, 14 de julho de 2008

Obras-Primas da Arte do Côa 02 - Rocha 3 da Quinta da Barca






É um pequeno mas notável painel insculturado com três gravuras paleolíticas da mesma fase de execução. Localiza-se na margem esquerda da ribeira da Quinta da Barca, um local infelizmente ainda não aberto ao público, em especial por dificuldades de acesso.
As gravações deste pequeno grupo de capra pyrenaica são tecnicamente muito elaboradas. Desapareceu parte da figura ao alto à esquerda, presumivelmente um macho que seria muito idêntico ao motivo central do grupo (conf. a reconstituição em desenho).
O que ressalta desta excelente composição é o apuro técnico do conjunto e o notável domínio do movimento, simulado quer pelas duas cabeças, quer pela perspectiva correcta das pernas dianteiras da figura central. Por outro lado, a solução artisticamente muito elaborada para a gravação dos longos cornos anelados, com os anéis de crescimento como que prolongando a técnica de "arame farpado" do interior do corpo fazem desta figura um caso singular em todo o Vale do Côa. 
Também a representação da fêmea, figurada em perfil absoluto no sector inferior do painel, tem o mesmo apuro técnico e é sem dúvida da mesma mão.
Embora estas gravuras tenham os principais atributos convencionais da arte zoomórfica da fase antiga da Arte do Côa, há neste conjunto um sopro de criatividade artística verdadeiramente notável e que o destaca das restantes produções rupestres dos núcleos do Côa. 
Da mesma maneira que para a Rocha 1 de Piscos, este é outro caso em que se pode falar de um artista singular a que chamarei o Mestre da Quinta da Barca e que poderá eventualmente ter deixado outras produções artísticas no vale (cabra na Penascosa ?).
Este painel tem infelizmente graves problemas de conservação. Será um dos quatro únicos que serão replicados para o Museu do Côa por razões que explicarei em outra ocasião. Já o Museu de Altamira nos tinha em tempos solicitado uma sua réplica (é muito interessante o paralelismo entre a posição e o movimento de pernas do macho central e os famosos bisontes - misto de pintura e escultura - revolvendo-se no tecto principal de Altamira). De qualquer forma, neste museu pode apreciar-se esta imagem em fotografia fazendo jus à enorme qualidade artística deste pequeno (mas grande!) conjunto de pirenaicas do Vale do Côa.

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